A dream

O lugar tinha um cheiro de almíscar com flor de laranjeira.

Estava tudo planejado, haviam muitas almofadas por toda parte. A cama era aconchegante, com seus lençóis alvos e macios. Grandes travesseiros deixavam ele tão confortável quanto pudesse, mesmo que a ansiedade por vê-la o tivesse dominando. Desciam, em volta da cama, véus quase transparentes, que só serviam para criar um ar de mistério ao olhos de quem esperava.

Haviam velas de várias cores e tamanhos, elas exalavam um odor suave que só seria sentido quando o véu misturasse o ar daquele local. Criavam um cenário de meia luz muito propício para aquele momento.

Ao fundo havia  uma música tão característica, que anunciava a exibição que estava por vir. Ele já conseguia ouvir o som do trinitrar das moedas do lenço dela, batendo umas nas outras, liberando um som que fazia compasso com seu coração.

Enquanto isso, ela aveludava sua pele com uma doce essência, e deslizava os dedos por seu corpo desejando que, logo mais, todo este conjunto pudesse causar harmonia e paixão nele.

Nos olhos havia uma sombra roxa e dourada para que combinasse com suas vestes. Eram contornados com traços fortes e escuros, o que evidenciava aquele olhar malicioso e, ao mesmo tempo, com certa inocência, que ela só tinha quando se entregava à dança. Os lábios estavam umedecidos por um gloss que tinha um sabor levemente adocicado e pediam para que fossem provados.

Nos braços muitas pulseiras. Usava um brinco chamativo para completar o visual. Passou seu perfume habitual, que já era uma característica só dela.

E então tomou o véu em suas mãos e foi ao encontro daquele que a esperava.

Em meio à espera, ele viu uma fresta da porta se abrir, seu coração bateu forte, era sabido que chegara o momento.

Ela entra no quarto com o véu cobrindo seu corpo, para impedir a visão de suas roupas. Se aproxima calmamente dele que, por instinto, tenta alcançá-la, mas ela balança a cabeça impedindo-o. Diz ao seu ouvido, bem baixinho, para que ele não a toque, só observe, e beija seu pescoço.

Ele pode vê-la, sentir seu cheiro, ouvi-la, mas não pode tocá-la.

Se distanciando um pouco, é começada a dança. O véu passeia pelo quarto, exalando paixão. Percorre o corpo dela como se fossem amantes. Sua roupa brilha, é como se estivesse voando, cada movimento faz um som que acompanha a música que toca feliz. A música, o véu e a bailarina se completam naquele momento. Ela dá passos suaves. Faz ondulações ousadas. Mexe os braços como se pudesse desenhar a dança no ar. Mas, principalmente, quando olha nos olhos dele afirma que aquela dança é pra ele e é por ele. Passeando pelo quarto, sob luz de velas, ela reafirma suas paixões pela dança e por ele.

E então, como se fosse mágica, ela já está tão próxima dele, que ele sente o vento que vem do véu. Suavemente fecha os olhos, como se estivesse em um sonho. Então, ela toca seus cabelos e desliza as costas das mãos por seu rosto, ele ouve o barulho das pulseiras, parecendo efeitos sonoros, tão suaves: o som, o toque, o cheiro. Ela pega a mão dele e leva de encontro ao seu corpo. Deixa que ele a sinta, que saiba que ela está ali com ele e por ele. E enquanto a música toca ela o beija suave e profundamente, entregando a ele não só sua dança, como também seu coração.

Lichtgestalt